quinta-feira, 29 de agosto de 2013

UMA OUTRA HISTÓRIA DO GINÁSIO

 
Os Veleiros na rampa




UMA OUTRA HISTÓRIA DE GINÁSIO

Essa foi outra etapa da minha vida, bem curtida por sinal, e por incrível que pareça com alguns fatos descritos no livro de Jorge Amado “O Sumiço da Santa” os quais, para quem leu e viveu a época sabe do que estou falando, e no livro ele relata as brigas de turmas dos bairros de Salvador sendo que algumas eu vi acontecer com personagens conhecidos como Berereco, Argolo, negão da Capoeira, dos capoeiristas da época como mestre Vermelho, mestre Bimba, dos carurus do Mercado de Santa Bárbara, da feira das Sete Portas, da rampa do Mercado Modelo que ficava repleta de veleiros multicoloridos com suas velas branca emoldurando o ambiente e lembro também da Baixa dos Sapateiros que era o verdadeiro centro de compras da cidade, das maravilhosas festas de largo, do carnaval com os bancos e cadeiras espalhados pela avenida, dos blocos de caretas, dos blocos de índios, das barracas de madeira armadas para a grande festa, da barraca de Juvená do Trio Elétrico Saborosa, o Trio Caetanave, das batidas de Diolino no Rio Vermelho, do Candomblé de Mãe Menininha do Gatois, de Olga de Alaketo, da Mulher de Roxo desfilando pela Piedade e Avenida Sete, das poucas e boas escolas como ICEIA, Severino Vieira, Central e Antônio Vieira além do colégio especialmente para meninas “Sacramentinas”, lembro-me bem da nossa primeira farda que era de um tecido caqui e sapatos vulcabrás 757 a qual mudou depois para uma calça de tergal azul e camisa branca e no SENAC eu fui estudar os dois primeiros anos do ginásio onde fiz boas amizades e vivi momentos especiais guardados na lembrança até hoje e pelo visto ficarão comigo para sempre levando em conta que a turma era muito boa e não sei por que não se fazem mais amigos como antigamente, como se diz, e lembro-me bem do professor de inglês (teacher Hamilton), como gostava de ser chamado, e que fazia questão de toda a aula ser falada em inglês e isso era o máximo além de provocar mil e umas risadas devido a pronuncia de alguns colegas. Bem!! como o SENAC tinha haver com o comércio, bolamos um conjunto musical (Os Tropicalistas), influência da Tropicália de Caetano Veloso, listamos os instrumentos e a diretoria do colégio conseguiu, e nessa onda juntamos eu, Haroldo Caciquinho, Nilton Biron e Sérgio para formar o grupo e após alguns ensaios fomos convidados para fazer nossa primeira apresentação no dia dos comerciários na quadra de esportes do colégio que estava lotada, e essa fica no Aquidabã, no início da Baixa dos Sapateiros, e lá vamos nós para a noite de gala e nessa noite tirando o professor de Educação Física que achou nosso som baixo e pegou o timbau para lascar a mão, o resto foi beleza, tiramos de letra e fomos os galãs da festa com as colegas nos paparicando.
As colegas eram maravilhosas, todas, e ainda me lembro de Norma irmã de Haroldo, as irmãs Ana Lúcia e Ana Liese, as irmãs Maria Antonieta e Vera, os irmãos Bahiana, os colegas como o Antônio que depois de homem virou transformista, traveco, e um belo dia no centro da cidade vi aquele personagem esquisito e ao reconhecer a peça chamei-o pelo nome e de batismo e ele não gostou, pois agora ele era Matilda, mais ficou alegre em me ver e saber que o reconheci, outro personagem era o Sérgio que fazia parte do nosso time de futebol de salão e ele passava sabão em baixo dos braços para evitar mau cheiro mais com o movimento do jogo começava a espumar e a espuma saia por trás e na frente dos braços e isso era um deleite para a galera. Eu e Haroldo, amigos inseparáveis, formamos uma dupla infernal no ping-pong, pode-se dizer imbatível, levando-se em conta a torcida feminina sempre a nos prestigiar e ainda mais que o Haroldo era um terror e não deixava escapar nada. Nessa onda aconteceu a Primeira Olimpíada dos Comerciários e lá vamos nós como alunos modelo para participar do evento que começou com missa na Igreja da Sé para depois a seção de jogos e desfiles em um domingo na sede de praia no SESC de Piatã regado a feijoada e muita brincadeira entre os diversos ramos do comércio baiano. Olha, eu confesso a vocês que foi um tempo maravilhoso, apesar de ter vivido muito e intensamente meus dias de vida aqui na terra, lhes digo que esse período foi um tempo bom, muito bom e fazia parte a inocência, a amizade, o companheirismo,  o respeito pelo outro, a vontade de aprender, de querer saber, e vinham as festas, a dança de rosto colado com a garota, a paquera, vinha as longas férias e um mundo de feriados, a ida para a praia de Itapoã que era uma verdadeira viagem, e a Salvador provinciana, com ar de interior e o misticismo que deixava a cidade nagô e todos filhos D’Oxum.

A missa do SENAC 



A 1ª Olimpíada dos Comerciários




Os veleiros da velha Salvador




A velha Itapoã
  Haroldo Caciquinho
                 

                                                Nilton Birom