Os Veleiros na rampa |
UMA OUTRA
HISTÓRIA DE GINÁSIO
Essa
foi outra etapa da minha vida, bem curtida por sinal, e por incrível que pareça
com alguns fatos descritos no livro de Jorge Amado “O Sumiço da Santa” os quais,
para quem leu e viveu a época sabe do que estou falando, e no livro ele relata
as brigas de turmas dos bairros de Salvador sendo que algumas eu vi acontecer com
personagens conhecidos como Berereco, Argolo, negão da Capoeira, dos capoeiristas da época como mestre Vermelho,
mestre Bimba, dos carurus do Mercado de Santa Bárbara, da feira das Sete Portas,
da rampa do Mercado Modelo que ficava repleta de veleiros multicoloridos com
suas velas branca emoldurando o ambiente e lembro também da Baixa dos
Sapateiros que era o verdadeiro centro de compras da cidade, das maravilhosas festas
de largo, do carnaval com os bancos e cadeiras espalhados pela avenida, dos blocos de caretas, dos blocos de índios, das
barracas de madeira armadas para a grande festa, da barraca de Juvená do Trio
Elétrico Saborosa, o Trio Caetanave, das batidas de Diolino no Rio Vermelho, do
Candomblé de Mãe Menininha do Gatois, de Olga de Alaketo, da Mulher de Roxo
desfilando pela Piedade e Avenida Sete, das poucas e boas escolas como ICEIA,
Severino Vieira, Central e Antônio Vieira além do colégio especialmente para
meninas “Sacramentinas”, lembro-me bem da nossa primeira farda que era de um
tecido caqui e sapatos vulcabrás 757 a qual mudou depois para uma calça de tergal
azul e camisa branca e no SENAC eu fui estudar os dois primeiros anos do
ginásio onde fiz boas amizades e vivi momentos especiais guardados na lembrança
até hoje e pelo visto ficarão comigo para sempre levando em conta que a turma
era muito boa e não sei por que não se fazem mais amigos como antigamente, como
se diz, e lembro-me bem do professor de inglês (teacher Hamilton), como gostava
de ser chamado, e que fazia questão de toda a aula ser falada em inglês e isso
era o máximo além de provocar mil e umas risadas devido a pronuncia de alguns
colegas. Bem!! como o SENAC tinha haver com o comércio, bolamos um conjunto
musical (Os Tropicalistas), influência da Tropicália de Caetano Veloso,
listamos os instrumentos e a diretoria do colégio conseguiu, e nessa onda juntamos
eu, Haroldo Caciquinho, Nilton Biron e Sérgio para formar o grupo e após alguns
ensaios fomos convidados para fazer nossa primeira apresentação no dia dos
comerciários na quadra de esportes do colégio que estava lotada, e essa fica no
Aquidabã, no início da Baixa dos Sapateiros, e lá vamos nós para a noite de
gala e nessa noite tirando o professor de Educação Física que achou nosso som
baixo e pegou o timbau para lascar a mão, o resto foi beleza, tiramos de letra
e fomos os galãs da festa com as colegas nos paparicando.
As
colegas eram maravilhosas, todas, e ainda me lembro de Norma irmã de Haroldo,
as irmãs Ana Lúcia e Ana Liese, as irmãs Maria Antonieta e Vera, os irmãos
Bahiana, os colegas como o Antônio que depois de homem virou transformista,
traveco, e um belo dia no centro da cidade vi aquele personagem esquisito e ao
reconhecer a peça chamei-o pelo nome e de batismo e ele não gostou, pois agora
ele era Matilda, mais ficou alegre em me ver e saber que o reconheci, outro
personagem era o Sérgio que fazia parte do nosso time de futebol de salão e ele
passava sabão em baixo dos braços para evitar mau cheiro mais com o movimento
do jogo começava a espumar e a espuma saia por trás e na frente dos braços e isso
era um deleite para a galera. Eu e Haroldo, amigos inseparáveis, formamos uma
dupla infernal no ping-pong, pode-se dizer imbatível, levando-se em conta a
torcida feminina sempre a nos prestigiar e ainda mais que o Haroldo era um
terror e não deixava escapar nada. Nessa onda aconteceu a Primeira Olimpíada
dos Comerciários e lá vamos nós como alunos modelo para participar do evento
que começou com missa na Igreja da Sé para depois a seção de jogos e desfiles
em um domingo na sede de praia no SESC de Piatã regado a feijoada e muita
brincadeira entre os diversos ramos do comércio baiano. Olha, eu confesso a
vocês que foi um tempo maravilhoso, apesar de ter vivido muito e intensamente
meus dias de vida aqui na terra, lhes digo que esse período foi um tempo bom,
muito bom e fazia parte a inocência, a amizade, o companheirismo, o respeito pelo outro, a vontade de aprender,
de querer saber, e vinham as festas, a dança de rosto colado com a garota, a
paquera, vinha as longas férias e um mundo de feriados, a ida para a praia de
Itapoã que era uma verdadeira viagem, e a Salvador provinciana, com ar de
interior e o misticismo que deixava a cidade nagô e todos filhos D’Oxum.
A missa do SENAC |
A 1ª Olimpíada dos Comerciários |
Os veleiros da velha Salvador |
A velha Itapoã Haroldo Caciquinho |
Nilton Birom