Não será obedecido nenhuma ordem cronológica dos fatos e apenas tenho a intensão de mostrar como é Bom Viver algumas aventuras e guardar esses escritos para posteriormente escrever um livro.
Salvador , a terra de Xangô, Oxalá e Oxossi |
Eu e Eduardo em Sampa |
Viajando |
Um belo dia fomos convidado para um passeio de escuna, eu e
um colega de trabalho, Gilberto, e achamos a idéia magnífica. Fazer um passeio
pela baia de todos os santos, de escuna,
com muita mulher a bordo, comida e bebida, era esse o nosso pensamento, era tudo que
queríamos. Não contamos conversa,
pagamos e esperamos a semana passar, e num belo dia de sábado, pleno verão, bem
cedo o Gilberto me pegou e fomos até a Ribeira, um bairro da cidade baixa onde
existe um ancoradouro de onde saem as escunas
fretadas para passeios. Como não conhecíamos ninguém, apenas a menina que nos
vendeu os convites, ficamos esperando.
Gilberto todo de branco e sacola na mão, esperava mais ansioso que eu, e
como chegamos bem cedo o jeito era esperar. Não esperamos muito até aparecer o
primeiro grupo para uma das escunas e como não sabíamos qual seria a nossa, nos
arrumávamos e Gilberto pegava a sacola, colocava no ombro e admirava as gatas
passarem, loiras lindas e chiques, só que não era a nossa escuna, pois a menina
conhecida não estava e voltávamos a sentar na balostrada e esperar. E não
esperávamos muito, outro grupo aparecia com turistas em férias, tudo muito bonitinho e mais uma vez não era o
nosso grupo e a solução era continuar esperando.
Após uma longa espera, e dez escunas já haviam partido
combinando com um o sol que castigava e já começava a incomodar, vem um grupo
de um colégio que fez Gilberto levantar, só que este também não era o nosso,
porém, logo atrás, uma batucada, uma galera do 'mau', farofa na mão, bandeja de salgado, galinha assada,
garrafa de batida, garrafa de pinga, e o sambão comendo no centro e na frente a
menina que nos vendeu os convites e quando Gilberto a viu, mirou, conferiu,
disse:
- Nessa eu não vou. Diga que eu não vim...
E mergulhou
embaixo dos bancos. Isso mesmo!, mergulhou embaixo dos bancos só que não dava mais prá ficar incógnito devido ao
seu corpo gordo e seu jeito no pescoço,
e tentou se esconder querendo pular o cais, só que foi tudo em vão, pois
a menina já havia nos visto e o jeito foi embarcar na onda.
- Olá, venham conhecer o pessoal.
E fomos
apresentado a organizadora do passeio gente fina, como também ao resto da
turma, umas vinte e cinco pessoas, e após a arrumação embarcamos na escuna um tanto desconfiado e
envergonhado. A princípio uma olhada no visual da baía vendo a velha Salvador,
que visto da cidade baixa, ainda mais de
uma escuna se afastando para o mar,
ficava mais bonito e aos pouco mostrava seu corpo e diante de tão bela
visão estranhamos já estarmos
ultrapassando outras escunas, e um cheiro de fumaça que aumentava e o grumete
resmungava qualquer coisa vinda do piloto da escuna. Não demoramos muito a
descobrir o fato: informaram que não haveria almoço para os dois, apenas alguns
petiscos. E isso foi o suficiente para desencadear um pequeno alvoroço e o piloto que mau começara o
passeio já queria terminar.
Chegamos
rapidamente junto a outras escunas, repletas de gente, som, cervejas e alegria
e nós não ficávamos atrás o sabão comia doido e a galera bebia e bebia e ao
passarmos por uma das escunas cheias de gatas, dois malucos pularam no mar e
nadaram em direção a esta e todos nós ficamos perplexos, pois estávamos em mar
aberto e aguardamos resultado, que não foi dos melhores, pois não permitiram a
subida deles na escuna e os dois voltaram apressados e nosso piloto começou a
movimentar o barco e a gritaria começou até que jogaram uma corda e os dois
subiram a bordo.
Tudo isso só fazia irritar o piloto que cada vez mais acelerava
a escuna e o cheiro de fumaça aumentava, e a birita entornava e o sambão
entoava e as meninas enjoavam e todos cantavam, até que derrepente uma briga se
rompeu no meio da escuna e a confusão
estava formada, e aí um puxou uma faca!... outro gritava: olha a faca, olha a
faca. E os dois que brigavam cercados pelo grupo do-deixa-disso corriam pelas
laterais da escuna e esta deitava à medida que todos corriam e as ondas batiam,
e corriam para um lado e uns gritavam: toma a faca. Outro falava: segura aqui.
E outros riam e bebiam e comiam um pedaço de galinha e a briga ia para um lado
depois para o outro
e a escuna virava, até que a zorra parou e vencidos pelo
cansaço, pela birita e pelos que seguravam, os dois se separam e a briga
acabou. Eu juro que até hoje não sei o motivo da briga como também não sei quem
estava brigando.
Após um longo
percurso perseguindo as escunas, ultrapassando algumas delas e gritos daqui,
gritos de lá, chegamos a uma localidade chamada Ponta de Nossa Senhora, onde já
haviam algumas escunas ancoradas e ancoramos a nossa para que todos admirassem
a paisagem e quem quisesse poderia dar uns mergulhos e ir até a praia tomar
umas. Assim que foi jogada a âncora e a escuna se estabilizou a organizadora do
passeio pulou na água e nós, eu,
Gilberto e nossa amiga ficamos esperando ela retornar do mergulho e a
ajudamos a subir, quando esta nos olhou e sorriu, percebeu que estava sem uns
dentes que caíram no mar e foi aquele rebuliço, e choro, e gritos, e consolo,
até que não havia mais jeito e a solução era falar e rir com a mão na boca, e bola prá frente.
Eu, ao perceber
a distância da escuna para a praia não fiquei muito entusiasmado, já que a água
não é meu habitat natural e o mar estava revolto, além do mais, experiências anteriores me deixam de orelha em
pé. Mais não deu outra, e a galera começou a pular na água, e mergulhava, e gritava
e ficavam excitados, quando meu amigo
Gilberto que já dava sinal da 'mardita' tá subindo a cabeça, resolveu subir no
mastro da escuna para pular lá de cima...,
e subia, e o mastro balançava, e Gilberto ficava segurando com um braço
só, e subia, e a escuna balançava, e fazia que ia pular, e a galera gritava:
cuidado e nossa amiga gritava: desce daí meu filho e outros diziam: você vai
cair daí porra!. Só que Gilberto conseguiu chegar ao topo do mastro e pelo
visto não dava mais prá descer e a solução era mesmo pular. E se preparou. E
após uma olhada, uma pensada, ele pulou. Gilberto se precipitou num mergulho
muito doido e de uma altura mais doida ainda, e houve aquele silêncio e olhares
atônitos o seguiam pelo ar para vê-lo se espatifar na água e sumir. Os que
estavam na escuna correram para a lateral e esperaram Gilberto aparecer este
ficou alguns instantes no fundo e segundo ele tudo era escuro e não dava para
visualizar nada, apenas um ponto claro e foi o que ele seguiu, se guiando para chegar à tona e subir em busca de ar,
gritando: Haaaaaaaaaaa!..., para a tranquilidade da turma ela estava bem.
Depois dessa só
tomando uma, e foi o que eu fiz. Olhei para a Ponta de Nossa Senhora, admirei a
paisagem que é bela, fiz uma reflexão e comotodos já estavam lá o jeito era ir
também, e fui!
Me precipitei
ao mar, de uma altura normal, é claro,
começando a nadar e como as ondas fortes me arremessavam para a terra o
jeito era aproveitar e ir em frente. Cheguei e viva a diversão. Aí, lá para as
tantas da tarde, já era hora de voltar o
mar não estava para peixe bravo, altas ondas e eu pensei: como encarar essa
agora. Consegui chegar na escuna após nadar contra as ondas fortes, mesclando
um nado cachorrinho com umas boiadas e umas batidas de braço e finalmente me
ver livre do mar revolto. Subi na embarcação e fiquei aguardando o resto, pois
já era uma cinco prá seis horas e já ventava muito. O piloto da escuna não era
mais o mesmo e estava transtornado, possesso, e já havia ligado o motor
forçando todos a voltar e não deu outra,
os ébrios e os meios sã se precipitaram ao mar e de encontro as ondas começaram
a nadar e quando todos já se encontravam na escuna, dois personagens, não sei
por que, após a escuna entrar em velocidade, resolveram pular outra vez na água
e Tchibum!. Só que para surpresa geral o piloto começou a movimentar a escuna
mais rápido, e foi indo embora e todos gritavam: espera aí!... homem ao mar. E
sem dar atenção o piloto continuou e para surpresa maior de todos, o meu amigo Gilberto
se preparou e atirou-se ao mar dizendo que ia salvar os outrosdois.
E a escuna se
afastava, todos gritavam, os três no mar se afastavam a ponto de ficarem
visíveis apenas um ponto no mar. Então estava formada mais uma confusão. As
mulheres numa crise de choro em cima do piloto,
os homens queriam almoçar o cara, e para aí, e faz a volta, e solta o
barco salva-vidas e foi o feito - o barquinho ficou solto, a esmo. A solução para o piloto foi fazer um giro,
resgatar os personagens no mar, apanhar o
barco, e após mais essa retornarmos a caminho de Salvador.
Quando a escuna
entrou em velocidade de cruzeiro, anoiteceu e a embarcação, por azar mesmo,
quebrou. Quebrou em alto mar e ficou a deriva, e anoiteceu, e ventava forte, e
estava formada a zorra. O piloto jogou a âncora para estabilizar a escuna
quando começou a chover forte, ventando muito e balançando a escuna como uma
folha de papel obrigando a todos a se recolherem num único espaço coberto da
escuna que era um quarto com banheiro e quando eu desci, este já estava lotado
e para completar quebraram a porta do banheiro com uma pesada pensando ser um
outro quarto e como não era o mau cheiro invadia o quarto só para completar a
cena. Imaginem? presos numa escuna em alto mar, à noite, chovendo, ventando
mais que ventilador, um frio de lascar, a escuna balançando que nem gangorra e com
um sanitário a todo vapor.
O tempo
passava, as mulheres começavam a entrar no terror e todos já demonstravam
cansaço, quando o piloto se dirigiu a mim informando que daria notícias à
Capitania dos Portos através de um rádio de bordo e ao mostrar o rádio alguns
se precipitaram sobre este no momento em que o piloto aplicava o código de
comunicação dos rádios amadores para com a Capitania, cercando-o e querendo
saber do retorno como também para matar a curiosidade. Meu amigo Gilberto a
essa altura, já chumbado, convenceu o piloto de que sabia manipular o rádio e
este de otário deu a ele o microfone e foi a maior loucura que eu já tinha
ouvido: alô CPRM, (CPRM é a empresa que nós trabalhamos) alô, CPRM, - nove,
três, quatro,... é dois, um, dois. Atento nove, três, quatro, aqui é dois, um,
dois (estes são números código de chamada no rádio amador) e então a gargalhada
foi geral inclusive dos que sofriam com a situação, porém por incrível que
pareça uma voz ecoou do rádio - atenção aqui é o Loirinha - câmbio. E foi aquele espanto, quando o
piloto pegou o rádio e passou a informação da nossa localização e logo em
seguida o Gilberto mais alguns malucos afobados pegaram o microfone novamente e
começaram a retrucar a mensagem com coisas sem nexo e completamente fora do
linguajar dos rádios-amadores. O rádio ficou mudo e a sacanagem em torno dele
continuou sem resposta para desespero de todos e risos de alguns. Paramos um tempo, a maioria recolhidos
ao cubículo e alguns lá em cima, e eu havia arranjado uma amiga que me cedeu
uma toalha para amenizar o frio enquanto olhava para os lados sem vislumbrar
coisa alguma e confesso com um pouco de medo, pois o mar estava revolto e dava
para perceber a fragilidade da escuna, a nossa fraqueza, a imensidão do mar, a
grandeza da terra e o quanto Deus é maior que tudo. E foi Ele que, já muito
tarde da noite nos mandou um reboque. Chegou outra escuna, jogando uma corda
que o piloto amarrou na nossa e fomos rebocado de volta para a felicidade de todos.
Resultado. A Capitania havia recebido um comunicado da escuna 'O Loirinha' que
funcionava como um bar flutuante, informando que havia uma escuna quebrada e
foram nos resgatar. Chegamos na Ribeira já meia noite, cansados e sem aquela
animação inicial e fomos todos para as nossas respectivas casas.
Uma coisa eu
digo a vocês, nunca mais entro numa
dessas.
Autor(a): Ricardo Hagge
Autor(a): Ricardo Hagge
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