No Mercado Modelo |
Na festa do Bonfim teve japonês no samba |
Quando aconteceu
a Tropicália que foi um movimento musical, social, político e tudo mais, capitaneado
por Caetano Veloso, Gilberto Gil, João Gilberto, Os Mutantes, Tom Zé, Maria Bethânia,
Gal Costa e alguns intelectuais da época, contribuiu para fazer a cabeça dos
jovens brasileiros, que vinham de um processo repressivo em vários aspectos como
a imposição da ditadura pelo exército brasileiro, a cultura religiosa mais
rígida aliada ao conservadorismo da própria sociedade, os quais receberam esse
movimento como um tiro de canhão, e que veio a
contribuir para a explosão da juventude em busca de liberdade de
expressão, em busca do novo, em busca da liberdade sexual, do amor, do Rock’nRoll
que era o ritmo da música americana que mostrava ao mundo o poder jovem, a
liberdade do corpo, a liberdade da mente em busca de novas ideias e o grito de
Paz e Amor contra as guerras, principalmente a do Vietnam que escandalizava o
mundo com o uso do Napalm e as atrocidades contra crianças e mulheres e que fez
surgir nos Estados Unidos o movimento hyppe que transformou boa parte do mundo.
Bem!!! Como o movimento hyppe se
espalhou pelo planeta, pode se dizer, não poderia deixar de ser diferente na
Bahia do acarajé, de Caetano, de Gil, de Maria Bethânia e Gal, dos festivais do
Colégio Severino Vieira, das Olimpíadas da Primavera, da Baixa dos Sapateiros, onde
nessa época, eu e Raimundo (Duiu) dois amigos inseparáveis, estavam vivendo a
explosão do novo, dos cabelos longos, dos irmãos e parentes envolvidos na
política, das passeatas na Barroquinha com os cachorros correndo atrás da gente,
da calça Lee que era o símbolo do jovem e da rebeldia da época e que era um
verdadeiro sacrifício para se conseguir uma, pois tínhamos que seguir até aos armazéns
das docas na cidade baixa, mirar o vendedor, passar por ele, saber o valor, informar
o número desejado, esperar o dito cujo voltar com a mercadoria e ficar esperto,
pois muitos levaram jornal ou capim enrolado e assim que ele aparecia pegava-se
o pacote, botava debaixo do braço e se picava já que polícia, os “homes”, estava
sempre a espreita e a qualquer momento um de nós poderia ser a vítima.
Nessa onda é que nós entramos na
brincadeira, pois resolvemos ser igual aos outros, partir sem rumo, ser hyppe
também e, como ser tudo isso sem os equipamentos necessários, sem os apetrechos
para uma viagem, como zarpar sem mochila, sem cantil, sem barraca, sem o
material para se preparar um artesanato a fim de se conseguir uma grana, como
ser andarilho, como ser hyppe que era a questão; Foi nessa ideia que resolvemos
pedir no Quartel do Exército e não deu outra. Seguimos para o Quartel cheios de
medo, de dúvidas, de ideias, de frases e muito mais, até chegarmos lá, nos
apresentarmos na sentinela, falar do nosso desejo tremendo que nem vara verde,
ao tempo em que o militar nos encaminhou para a área interna e ficamos
aguardando até chegar um oficial que nos levou para o objetivo e aí que foi o
processo e não te digo nada...
Paramos em uma sala repleta de armas de todo
tipo com um negão 2 por 2 (na minha época podia dizer “negão”, “amarelo”, “careca”,
“gordo” e nada disso tinha conotação racista), e este sem camisa, só com a
calça do exército, lubrificando um fuzil, suando igual a cuscuz, nos olhou de
cima a baixo, mirou aquelas duas figuras franzinas e perguntou:
- O que vocês querem????
E eu prontamente respondi: Somos
escoteiros “Lobinhos do Mar” e vamos acampar com o grupo e queremos ver se
podemos levar emprestado umas mochilas...
- O cara parou de limpar a arma em
seu colo, nos olhou novamente e com voz autoritária perguntou: como é a
saudação dos escoteiros????
Puta merda, e agora, gelamos nos
olhamos e eu vi o Duiu mais branco que
casa caiada quando me deu um estalo e levantei os três dedos, olhei para o
militar e disse:
- Sempre Alerta!!!!! Foi o estalo da
salvação e então a figura levantou e pegou mochila, barraca, cantil, panela e
um verdadeiro caminhão de bagulhos e nós espantados com aquela quantidade de
coisas e a variedade de objetos retrucava dizendo a ele que só precisava das
mochilas e era coisa demais e não dava prá levar e já chega e nada do cara
parar e finalmente ele nos disse: depois vocês devolvem.
Saímos do Quartel tremendo,
apreensivos, batendo continência até para a portaria, olhando todos os lados e à
medida que nos afastávamos começávamos a gargalhar e explodir em alegria,
felizes pela nossa façanha e cheios de tralhas nas costas, na cabeça e caminhamos
para casa a fim de encontrar a turma (Haroldo, Carlinhos lacrau, João Novaes) relatar o acontecido e traçar os rumos da nossa
viagem que já é uma outra história.
Raimundo (Duiu) |
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